Ergonomia importa para técnicos em campo?

Por Portal Saúde Confiável

22 de maio de 2025

Quando se fala em ergonomia, muita gente pensa logo em escritório: cadeira ajustável, monitor na altura dos olhos, descanso para o pulso. Mas e os profissionais que trabalham em campo? Técnicos que sobem escadas, carregam ferramentas pesadas, passam horas agachados ou deitados no chão apertado… será que a ergonomia não deveria ser ainda mais importante pra eles?

Pois é exatamente esse o ponto. Técnicos autônomos, eletricistas, encanadores e outros profissionais de manutenção vivem uma rotina física intensa. E, muitas vezes, ignoram os sinais do corpo. Dor nas costas? Normal. Joelho estalando? Acontece. Mas isso não deveria ser encarado como parte do pacote. A longo prazo, o custo é alto: lesões, afastamentos e perda de produtividade.

Ergonomia, nesse contexto, não é luxo nem exagero. É saúde preventiva. É trabalhar melhor, com menos esforço e mais segurança. É investir em posturas corretas, equipamentos adequados e planejamento do ambiente de trabalho — mesmo quando esse “ambiente” muda a cada atendimento.

Vamos explorar agora como a ergonomia impacta diretamente a vida de quem atua em campo, e por que ela deve fazer parte da rotina de qualquer técnico que quer durar mais anos na profissão — sem carregar dor como lembrança de cada serviço.

 

Posturas repetitivas e sobrecarga no corpo

Quem trabalha em campo sabe: cada dia é um cenário diferente, mas o esforço físico se repete. Agachar, subir em telhados, arrastar móveis, trabalhar de lado ou de costas — tudo isso, feito com frequência e sem o cuidado certo, sobrecarrega o corpo de forma silenciosa.

Pense na rotina de um encanador no Brooklin. Em muitos atendimentos, ele passa horas com o pescoço curvado ou embaixo de pias apertadas, fazendo força com uma mão só, sustentando o corpo inteiro com os joelhos. Parece simples na hora, mas cobra um preço alto com o tempo.

Essas posturas irregulares geram microlesões, inflamações nos tendões, dores na lombar, nos ombros e até problemas de circulação. E o pior: são acumulativas. Um dia não faz mal. Mas 10 anos assim, sem adaptação, viram um combo de limitações físicas.

Por isso, a ergonomia começa no básico: parar pra perceber como se movimenta, que tipo de posição adota com frequência e que ajustes simples podem reduzir o impacto — mesmo sem equipamento nenhum.

 

Ferramentas adequadas fazem diferença

Ergonomia também está nas ferramentas. Muita gente nem percebe, mas o formato do cabo, o peso da maleta, o tipo de empunhadura ou até o comprimento da escada fazem uma diferença enorme no esforço exigido durante o trabalho.

Um encanador na Mooca que carrega uma bolsa pesada sem rodinhas, por exemplo, já começa o atendimento com o corpo tensionado. Se as ferramentas estão mal organizadas ou exigem movimentos exagerados, o esforço se multiplica.

Hoje existem ferramentas com design ergonômico — leves, com pegada firme, que evitam torções e reduzem o esforço do punho. Parece detalhe, mas quem usa diariamente sente a diferença. Trocar um alicate tradicional por um modelo com mola de retorno, por exemplo, pode diminuir dores no antebraço.

Além disso, o uso de cintos, bolsas transversais e mochilas ajustáveis distribui melhor o peso e reduz a sobrecarga em ombros e coluna. É um investimento que vale a pena — porque impacta diretamente na qualidade de vida no trabalho.

 

Planejamento do ambiente de trabalho

Ok, o técnico trabalha “na casa dos outros”. Mas isso não significa que não pode adaptar o espaço pra trabalhar melhor. Ergonomia também é isso: olhar pro ambiente e planejar a forma mais segura e confortável de executar a tarefa.

Um eletricista, por exemplo, pode parar por dois minutos antes de começar um serviço no teto. Avaliar se dá pra usar uma escada mais estável, se o acesso está limpo, se há apoio para os pés ou se precisa de uma luz extra para não forçar os olhos. Pequenas decisões que mudam tudo.

Isso vale também pra altura da bancada improvisada, o uso de apoios de joelho em trabalhos no chão, ou o simples fato de pedir ao cliente para afastar móveis antes da chegada. Ergonomia em campo é, muitas vezes, uma questão de postura proativa — não só física, mas mental.

E o detalhe: um técnico que organiza seu ambiente mostra profissionalismo. O cliente percebe esse cuidado e entende que está diante de alguém experiente, que sabe como evitar riscos e valoriza o próprio corpo.

 

Rotina intensa e falta de pausas

Outro erro comum é ignorar o corpo na correria. Muitos técnicos engatam um atendimento no outro, pulam refeições, não alongam, não descansam. Isso parece produtividade… mas é um convite ao esgotamento físico e mental.

Um eletricista que faz quatro atendimentos pesados em um dia, sem parar, está sobrecarregando articulações, músculos e até a concentração. E quando o corpo está no limite, o risco de erro aumenta — o que pode causar acidentes, retrabalho ou lesões mais sérias.

Pausas curtas entre atendimentos, alongamentos simples e hidratação constante fazem diferença. Não é frescura. É autocuidado básico para quem depende do próprio corpo como ferramenta de trabalho. Um minuto de alongamento pode evitar semanas afastado por dor lombar.

Quem quer longevidade na profissão precisa aprender a ouvir o próprio corpo. E a rotina só funciona quando inclui momentos de descanso. Mesmo que curtos, mesmo que dentro do carro, entre um cliente e outro.

 

Equipamentos de proteção que ajudam (ou atrapalham)

EPIs são obrigatórios. Mas quando usados de forma errada — ou escolhidos sem critério — podem atrapalhar mais do que ajudar. Ergonomia também passa por isso: usar proteção sem comprometer a mobilidade, a respiração ou a estabilidade durante o serviço.

Um encanador que usa joelheiras desconfortáveis pode acabar forçando a coluna pra compensar. Um capacete mal ajustado causa dor de cabeça. Luvas que escorregam aumentam o risco de lesão. Não basta usar — tem que usar certo.

Por isso, a escolha dos EPIs deve considerar o ajuste ao corpo, o material, o conforto térmico e até o tempo de uso. Um cinto de ferramentas bem posicionado, por exemplo, distribui o peso e evita dores na lombar. Mas se estiver mal ajustado, vira um incômodo.

O técnico precisa testar, ajustar e trocar quando necessário. Um EPI desconfortável será deixado de lado no primeiro dia quente. Já um que oferece proteção e conforto vira aliado constante — e isso melhora a segurança sem sacrificar o corpo.

 

Prevenção de lesões a longo prazo

O grande desafio da ergonomia em serviços técnicos é pensar no longo prazo. A maioria das dores não surge de um único esforço, mas da repetição contínua. E quando a lesão aparece, já está instalada — e pode ser difícil reverter.

É por isso que investir em ergonomia é, na verdade, investir em permanência na profissão. Quem cuida do corpo agora, trabalha por mais tempo, com mais qualidade, menos afastamentos e maior rendimento. E isso vale mais do que qualquer economia no curto prazo.

A consciência corporal, o uso inteligente de ferramentas e a organização da rotina são os primeiros passos. Depois, vale procurar orientação de fisioterapeutas, fazer exercícios compensatórios e criar o hábito de se cuidar — mesmo quando a agenda estiver cheia.

Ergonomia importa. E muito. Especialmente pra quem está todo dia em campo, resolvendo os problemas dos outros — mas que também precisa cuidar do próprio corpo com a mesma atenção. Porque trabalhar bem não pode significar adoecer no processo.

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