A importância da calibração nos instrumentos de medição

Por Portal Saúde Confiável

18 de julho de 2025

A gente costuma confiar nos aparelhos de saúde quase como se fossem infalíveis. Seja aquele termômetro digital de farmácia, o oxímetro usado no hospital ou o medidor de pressão em casa — todos transmitem uma sensação de precisão, de certeza. Mas será que eles são realmente tão confiáveis assim? E mais importante: por que a gente deveria confiar?

Por trás dessa confiança tem muita ciência envolvida. Nenhum equipamento médico é colocado no mercado sem passar por uma série de testes e validações rigorosas. E isso não acontece uma vez só, não. Existe uma rotina constante de manutenção e aferição que garante que os valores exibidos estejam de acordo com a realidade. E isso é ainda mais importante quando se trata de decisões clínicas, que podem depender de um simples número na tela.

Agora, o que talvez você não saiba é que essa confiabilidade vem da metrologia. Sim, aquela ciência que a gente costuma associar a réguas, balanças e instrumentos técnicos também está no coração do seu aparelho de medir febre. E não só isso: ela está por trás de exames de imagem, monitoramento cardíaco e até da administração de medicamentos por bomba de infusão.

Então, se você é do tipo que se pergunta se pode confiar no resultado do medidor de glicose ou do monitor de pressão, a resposta depende de vários fatores — e todos eles passam por processos bem sérios de controle e verificação. Bora entender melhor como essa confiança é construída?

 

A importância da calibração em equipamentos médicos

Vamos começar do começo: se você confia em um aparelho de saúde, é porque ele te dá uma leitura coerente — repetível, estável, precisa. E isso só é possível quando ele está corretamente calibrado. A calibração é o processo que compara os valores medidos por um equipamento com um padrão de referência, e ajusta (se necessário) para que os resultados estejam dentro do aceitável.

Sem a calibração, até o equipamento mais moderno pode te enganar. Imagine um oxímetro que mostra 98% de saturação quando, na verdade, você está com 91%. Parece pouco? Em ambiente hospitalar, isso pode mudar totalmente o rumo do atendimento. E sim, há casos documentados em que aparelhos descalibrados causaram decisões erradas em pronto-socorros.

Por isso, hospitais, clínicas e laboratórios mantêm cronogramas rígidos de calibração de todos os equipamentos. É uma exigência, inclusive, de certificações como a ONA e outras normas internacionais. Mesmo aquele simples esfigmomanômetro analógico — o de braçadeira e estetoscópio — precisa ser verificado regularmente para garantir que não esteja “mentindo”.

Confiar, nesse contexto, não é um ato de fé. É resultado de processos técnicos controlados e validados, que garantem que os números que você lê na tela do aparelho sejam o mais próximos possível da realidade.

 

Quando um erro de medição vira um risco à saúde

Pode parecer exagero, mas um pequeno erro de medição pode ser fatal. Principalmente em contextos delicados, como unidades de terapia intensiva ou salas de cirurgia, onde cada valor — temperatura corporal, frequência cardíaca, nível de oxigênio — pode determinar uma conduta médica.

E não é só nos hospitais. Em casa também. Um diabético que se baseia em uma leitura errada do glicosímetro pode aplicar uma dose equivocada de insulina. Um hipertenso que acredita estar com pressão “ok” pode ignorar sintomas sérios. São situações cotidianas, e que mostram como a confiança nos aparelhos precisa estar lastreada por garantia técnica.

O que pouca gente sabe é que, muitas vezes, o erro não é do usuário, mas do equipamento que não passou por manutenção adequada. Sensores envelhecem, componentes eletrônicos sofrem interferência, baterias fracas alteram leituras. Tudo isso contribui para medições imprecisas. E, convenhamos, quando se trata de saúde, não dá pra brincar com margem de erro.

É por isso que órgãos reguladores, como a Anvisa, exigem que equipamentos de uso médico sejam submetidos a ensaios e verificações periódicas. Não basta funcionar — tem que funcionar direito. E isso vale pra todos, dos mais caros aos mais simples.

 

Instrumentos de uso doméstico: praticidade e riscos

A popularização de equipamentos de medição para uso doméstico foi um baita avanço. Hoje, você pode monitorar pressão, glicose, oxigenação e até realizar eletrocardiogramas com dispositivos portáteis. Mas junto com a praticidade vem uma grande responsabilidade: saber que nem todo aparelho oferece a mesma confiabilidade de um equipamento profissional.

Nem todos os aparelhos vendidos em farmácias são submetidos aos mesmos testes que os usados em hospitais. E muitos usuários desconhecem que, mesmo os dispositivos caseiros, precisam de revisão. Já viu aquele termômetro que sempre marca 36,5°C, não importa o que aconteça? Pois é, talvez ele não esteja tão funcional assim.

Outro ponto crítico: as condições de uso. Temperatura ambiente, umidade, forma de armazenamento… tudo influencia. Um oxímetro que fica jogado na gaveta, exposto ao calor, pode começar a dar leituras erradas sem nenhum aviso. E como a maioria das pessoas não calibra ou testa esses equipamentos, os erros passam despercebidos.

Por isso, se você usa regularmente algum desses dispositivos, vale a pena checar se ele tem selo de aprovação da Anvisa, se o manual indica quando realizar a manutenção e, se possível, levar para uma verificação técnica a cada certo tempo. Pode parecer exagero — mas é seu corpo que está em jogo.

 

Como os hospitais garantem a confiabilidade dos equipamentos

Diferente do ambiente doméstico, hospitais seguem protocolos rígidos para garantir que os equipamentos médicos estejam funcionando de forma impecável. A confiabilidade aqui não é opcional — é questão de sobrevivência. E tudo começa com a escolha dos aparelhos: só entram no hospital aqueles que passaram por certificações nacionais e internacionais.

Depois disso, entra a parte mais importante: manutenção e verificação constante. Existe um setor específico em grandes hospitais chamado engenharia clínica, responsável por gerenciar o ciclo de vida de todos os equipamentos. Eles registram data de compra, últimas calibrações, histórico de falhas e próximas manutenções agendadas.

Além disso, os próprios protocolos de atendimento muitas vezes exigem a validação do equipamento antes do uso. Por exemplo, antes de uma cirurgia, monitores cardíacos e bombas de infusão são testados. Não é raro que o médico ou técnico peça a substituição de um equipamento se houver qualquer dúvida sobre a precisão dele.

Esse nível de controle dá respaldo às decisões clínicas. Garante que um número na tela não seja apenas um palpite, mas um dado confiável, com base técnica e rastreabilidade. E esse é um dos grandes diferenciais do cuidado hospitalar — a confiança que se constrói com base em processos.

 

Normas técnicas e regulamentações que asseguram a qualidade

Todo equipamento de saúde precisa seguir normas específicas. Elas não são só burocracia, são um escudo de proteção para o paciente. No Brasil, a Anvisa é quem regula esses padrões, mas existem referências internacionais como ISO 13485 (gestão da qualidade em dispositivos médicos) e IEC 60601 (segurança de equipamentos eletromédicos).

Essas normas definem critérios rigorosos para projeto, fabricação, testes, desempenho e até descarte de aparelhos. Nada é deixado ao acaso. Cada função, cada componente, cada alerta sonoro precisa atender a especificações muito bem definidas. Tudo pra garantir que o equipamento vá funcionar exatamente como deve, nas condições mais críticas possíveis.

Além disso, para serem comercializados, esses dispositivos passam por auditorias, ensaios clínicos, validações laboratoriais… e a cada atualização ou modificação, o processo recomeça. Isso garante que, mesmo com a evolução tecnológica, a qualidade e a segurança sejam mantidas.

E o mais interessante é que essas normas também abrangem as rotinas de verificação. Ou seja, não basta o equipamento nascer “correto” — ele precisa continuar correto ao longo do tempo. É isso que assegura a confiabilidade, não só no primeiro uso, mas em todos os momentos em que for necessário.

 

A confiança vem dos bastidores

No fim das contas, confiar em um aparelho de medição de saúde não é um ato cego. É algo construído com base em processos, normas, testes e verificações constantes. O que o paciente vê — um número na tela — é só a ponta do iceberg. Por trás, existe toda uma estrutura técnica cuidando para que aquele número represente fielmente o que está acontecendo no corpo.

Essa estrutura vai desde os fabricantes, que precisam atender exigências altíssimas, até os profissionais de saúde, que são treinados para interpretar os dados com senso crítico. E claro, envolve também os laboratórios e empresas de metrologia, que garantem que os equipamentos continuem operando dentro dos padrões esperados.

Aliás, confiar também passa por entender os limites dos aparelhos. Nenhum dispositivo é infalível, e por isso a verificação cruzada com outros métodos — ou com o olhar clínico do profissional — é fundamental. Ainda assim, a metrologia garante que, dentro do possível, os dados coletados sejam precisos, estáveis e seguros.

Portanto, da próxima vez que você colocar um oxímetro no dedo ou medir a pressão em casa, lembre-se: aquele número não surgiu do nada. Ele é resultado de muito conhecimento, ciência e cuidado técnico. E é isso que dá — ou deveria dar — a real confiança.

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