Alimentação escolar pode prevenir doenças na infância?

Por Portal Saúde Confiável

23 de julho de 2025

Quando falamos em alimentação escolar, é comum pensar no prato de arroz, feijão, legumes — aquela refeição básica que parece igual em toda escola. Mas por trás de cada garfada existe uma função muito maior do que apenas matar a fome. A merenda escolar, quando bem planejada, pode se tornar uma poderosa aliada na prevenção de doenças que afetam a infância.

Obesidade, anemia, desnutrição, hipertensão infantil… essas condições, que há algumas décadas pareciam distantes da realidade das crianças, hoje fazem parte do cotidiano de muitas famílias. E isso tem uma explicação clara: os hábitos alimentares vêm mudando, e nem sempre para melhor. Produtos ultraprocessados, falta de rotina para as refeições, excesso de açúcar e sal — tudo isso tem um impacto direto no desenvolvimento infantil.

É aí que a escola entra como um espaço estratégico. Lá, as crianças não só se alimentam, como aprendem, convivem e formam hábitos. E se esse ambiente oferece refeições equilibradas, pensadas por nutricionistas e alinhadas a práticas educativas, o efeito vai muito além do refeitório. A alimentação escolar passa a atuar como uma política de saúde pública.

Mas como isso acontece na prática? Quais doenças podem ser evitadas ou minimizadas com uma boa alimentação na escola? E quem está por trás desse trabalho diário de planejar, preparar e servir refeições com tanto impacto? A seguir, vamos mergulhar nesse universo e mostrar como a merenda escolar pode, sim, ser uma ferramenta poderosa de prevenção.

 

O combate à obesidade infantil começa no prato da escola

A obesidade infantil é, hoje, um dos maiores desafios de saúde pública no mundo. No Brasil, os números também são alarmantes: segundo dados do IBGE, cerca de 15% das crianças entre 5 e 9 anos estão obesas. A principal causa? Má alimentação — rica em calorias vazias e pobre em nutrientes essenciais.

Nas escolas, a alimentação balanceada se torna uma oportunidade real de mudar esse cenário. Ao oferecer refeições com porções adequadas de frutas, legumes, grãos integrais e proteínas de qualidade, a escola ajuda a construir uma rotina alimentar mais saudável. Além disso, ao limitar o acesso a produtos ultraprocessados e bebidas açucaradas, o ambiente se torna um espaço de proteção contra os gatilhos que levam à obesidade.

Mas o combate à obesidade vai além do prato. Envolve também educação nutricional, incentivo à atividade física e, principalmente, constância. Quando a criança aprende, desde cedo, que comer bem é natural, ela tende a manter esse comportamento ao longo da vida. E a escola é, sem dúvida, o lugar ideal para isso acontecer todos os dias.

 

Prevenção da anemia: o papel do ferro no desenvolvimento infantil

A anemia ferropriva — aquela causada pela deficiência de ferro — é uma condição que afeta milhões de crianças brasileiras. Os sintomas nem sempre são perceptíveis à primeira vista: cansaço, dificuldade de concentração, palidez. Mas os impactos podem ser duradouros, especialmente sobre o rendimento escolar e o desenvolvimento cognitivo.

A alimentação escolar pode ajudar a prevenir (ou até reverter) esse quadro. Como? Incluindo alimentos ricos em ferro nos cardápios, como feijão, carnes, vegetais verde-escuros e leguminosas. E mais: combinando esses alimentos com fontes de vitamina C (como laranja ou acerola), que ajudam na absorção do ferro no organismo.

Esse tipo de planejamento não é aleatório. Ele segue orientações do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e é elaborado por nutricionistas com base nas necessidades das diferentes faixas etárias. É um cuidado silencioso, mas poderoso, que contribui diretamente para o bem-estar físico e mental das crianças em idade escolar.

 

Desnutrição: quando a merenda é a principal refeição do dia

Em muitas regiões do Brasil, especialmente nas periferias urbanas e zonas rurais, a realidade é dura: a merenda escolar é, para muitas crianças, a refeição mais completa — e às vezes a única — do dia. Nesse contexto, a alimentação escolar deixa de ser apenas um apoio à educação e passa a ser uma política de combate à desnutrição.

Desnutrição não é só ausência de comida. É falta de nutrientes essenciais ao crescimento: proteínas, vitaminas, minerais. E esses elementos precisam estar presentes todos os dias, na quantidade certa, para que o corpo se desenvolva com saúde. Um prato com arroz, feijão, ovo, salada e fruta pode parecer simples — mas, para muitas crianças, representa o que há de mais nutritivo na rotina.

Quando a merenda é pensada com equilíbrio e regularidade, ela se transforma numa barreira contra os efeitos da pobreza alimentar. Por isso, investir em infraestrutura, formação de profissionais e monitoramento dos cardápios não é luxo — é necessidade. E a escola, mesmo sem ser uma unidade de saúde, passa a fazer um trabalho essencial de prevenção nutricional.

 

O papel da formação técnica na qualidade das refeições

Para que essa prevenção funcione, não basta ter comida no prato. É preciso que a preparação, o armazenamento e o serviço dos alimentos sejam feitos com técnica, segurança e atenção aos detalhes. E quem garante isso são os profissionais que atuam diariamente nas cozinhas escolares — especialmente aqueles com formação específica.

O técnico em Alimentação Escolar é peça-chave nesse processo. Ele sabe quais alimentos são fontes de ferro, cálcio, fibras e como combiná-los corretamente. Também entende sobre controle de porções, manipulação segura dos ingredientes e formas de preparo que preservam os nutrientes. Mais do que cozinhar, ele atua na linha de frente da promoção de saúde infantil.

Além disso, esse profissional se torna um elo entre o planejamento do cardápio, feito pelo nutricionista, e a execução prática na cozinha. É ele quem garante que o que foi pensado no papel chegue ao prato com a qualidade esperada. E isso, num contexto de prevenção de doenças, faz toda a diferença.

 

Educação alimentar: formando hábitos que duram para sempre

De nada adianta uma merenda perfeita se a criança não aprende o valor do que está comendo. Por isso, a alimentação escolar precisa vir acompanhada de ações de educação alimentar e nutricional. Não é só sobre o que se come, mas sobre entender por que aquilo está no prato.

Escolas que trabalham esse tema no currículo, com oficinas, hortas escolares, rodas de conversa e até visitas à cozinha, ajudam os alunos a criar uma relação mais consciente com a comida. Isso reduz o desperdício, aumenta a aceitação dos alimentos e contribui para a formação de hábitos saudáveis que podem durar uma vida inteira.

Educação alimentar não é aula de nutrição — é vivência. É mostrar que a fruta tem cor, sabor e importância. Que o arroz com feijão é poderoso. Que o legume não é castigo, mas aliado da saúde. Quando essa mensagem é transmitida com naturalidade, ela se incorpora ao dia a dia da criança e, muitas vezes, chega até à família.

 

Além do prato: impacto da alimentação escolar na saúde pública

Prevenir doenças na infância significa menos problemas na vida adulta. Uma criança que cresce com boa alimentação tem menos chance de desenvolver obesidade, diabetes, hipertensão e outros males crônicos no futuro. Isso impacta diretamente a saúde pública — menos internações, menos medicação, mais qualidade de vida.

A alimentação escolar, nesse contexto, é muito mais do que um apoio à educação. Ela é investimento em saúde preventiva, em desenvolvimento social e em equidade. É um dos poucos programas públicos que atinge crianças de todos os perfis, todos os dias, em todas as regiões do país.

Por isso, defendê-la com seriedade, garantir sua qualidade e profissionalizar cada etapa do processo é um dever de todos: educadores, gestores, nutricionistas, cozinheiros, pais e estudantes. Porque cada refeição escolar bem feita pode ser a diferença entre uma infância vulnerável e uma vida inteira com mais saúde.

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