Comer intuitivo é tendência? Veja o que dizem os estudos

Por Portal Saúde Confiável

22 de maio de 2025

Num mundo em que tantas dietas surgem e desaparecem, uma abordagem tem ganhado força — não por impor regras, mas justamente por ir na contramão delas. O comer intuitivo propõe que a melhor forma de se alimentar é ouvindo os sinais do próprio corpo. Parece simples demais? Pois é, justamente por isso tem chamado a atenção da ciência e dos profissionais de saúde.

A ideia é abandonar a lógica de restrição e culpa para construir uma relação mais saudável com a comida. Em vez de seguir uma tabela rígida ou contar calorias obsessivamente, o foco passa a ser: o que meu corpo está pedindo? Estou com fome ou com vontade? Estou satisfeito ou apenas comendo por hábito?

Essa abordagem, que parece nova para alguns, na verdade tem raízes em estudos científicos de décadas e já é adotada por nutricionistas, psicólogos e educadores alimentares no mundo todo. Muitos profissionais formados em áreas como o técnico em Nutrição têm incluído o comer intuitivo como alternativa eficaz — especialmente em casos de transtornos alimentares ou em pessoas com histórico de dietas repetidas sem sucesso.

Mas será que essa abordagem funciona mesmo? E o que os estudos dizem sobre ela? A seguir, vamos explorar as bases científicas do comer intuitivo, como ele é aplicado na prática, suas limitações e por que tanta gente tem buscado essa forma mais gentil de se alimentar.

 

O que é comer intuitivo, afinal?

Comer intuitivo é um conceito criado por duas nutricionistas norte-americanas, Evelyn Tribole e Elyse Resch, nos anos 1990. Elas perceberam que a cultura das dietas estava causando mais prejuízos do que benefícios: culpa, compulsão, efeito sanfona e desconexão com os sinais internos de fome e saciedade.

Esse método propõe dez princípios básicos, entre eles: rejeitar a mentalidade de dieta, honrar a fome, fazer as pazes com a comida, respeitar a saciedade, lidar com emoções sem usar a comida, e respeitar o corpo. Em resumo, é uma abordagem que prioriza o bem-estar a longo prazo, e não apenas resultados rápidos.

O objetivo não é emagrecer, mas recuperar uma relação equilibrada e consciente com a alimentação. Quando isso acontece, muitas pessoas acabam ajustando naturalmente o peso, o apetite e até a frequência das refeições — sem sofrimento ou culpa.

Importante: comer intuitivo não é “comer qualquer coisa, a qualquer hora”. É sobre ouvir o corpo, sim — mas com consciência, curiosidade e autocompaixão. E isso requer prática, não mágica.

 

Estudos científicos apoiam essa abordagem?

Sim, cada vez mais. Vários estudos dos últimos anos têm mostrado que o comer intuitivo pode trazer benefícios reais para a saúde física e mental. Pesquisas apontam melhora na autoestima, redução de sintomas de ansiedade relacionados à alimentação e, em muitos casos, estabilização do peso corporal sem dietas restritivas.

Uma revisão sistemática publicada no *Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics* concluiu que o comer intuitivo está associado à menor índice de massa corporal (IMC), maior satisfação corporal e menor incidência de comportamentos alimentares desordenados. Ou seja: ele ajuda tanto na parte emocional quanto na prática alimentar em si.

Outros estudos apontam melhora em parâmetros clínicos, como pressão arterial, níveis de colesterol e controle glicêmico, mesmo sem focar na perda de peso. Isso reforça a ideia de que saúde é muito mais do que o número na balança.

Claro, os resultados podem variar de pessoa para pessoa, e nem todos respondem da mesma forma. Mas os dados indicam que, para muita gente, parar de lutar contra o corpo é o primeiro passo para viver em paz com a comida.

 

Benefícios além da nutrição: o impacto emocional

Um dos grandes diferenciais do comer intuitivo é o foco na saúde emocional. Ele ajuda a reconstruir a relação com a comida, rompendo com o ciclo vicioso de dieta, culpa, compensação e recaída — algo muito comum em quem já tentou várias estratégias restritivas.

Pessoas que praticam essa abordagem relatam menos episódios de compulsão, menos ansiedade na hora de comer e mais prazer nas refeições. E, convenhamos: comer com prazer, sem culpa, é um dos atos mais simples e ao mesmo tempo mais transformadores.

Além disso, o comer intuitivo ajuda a desenvolver autoconhecimento e compaixão consigo mesmo. Em vez de julgar o corpo ou o comportamento alimentar, o foco passa a ser a escuta e o cuidado. Isso tem impacto direto na autoestima, na autoconfiança e até na motivação para se cuidar em outras áreas da vida.

Não é à toa que psicólogos e terapeutas também adotam o comer intuitivo em seus atendimentos, principalmente em casos de compulsão alimentar, transtorno de imagem corporal e distúrbios alimentares em geral.

 

Comer intuitivo emagrece?

Essa é uma das perguntas mais feitas — e também uma das mais mal interpretadas. O objetivo do comer intuitivo não é emagrecer. Ele não tem foco no peso, e sim na saúde global. Mas, para muitas pessoas, o peso corporal acaba se ajustando naturalmente ao longo do tempo.

Isso porque, ao parar de comer por impulso, ansiedade ou tédio, e passar a se alimentar com mais consciência e conexão, o corpo tende a encontrar seu ponto de equilíbrio. Isso pode significar perda, ganho ou manutenção de peso, dependendo do histórico e da biologia de cada pessoa.

É importante entender que o comer intuitivo trabalha com a ideia de peso natural, não com metas estéticas. Ele respeita a diversidade corporal e rompe com a ideia de que magreza é sinônimo de saúde. Isso é libertador — mas pode ser desafiador para quem passou a vida inteira focado em dietas.

Então, sim, o peso pode mudar — mas esse não deve ser o termômetro de sucesso. O verdadeiro “resultado” está na qualidade de vida, no bem-estar e na liberdade alimentar.

 

Quem pode se beneficiar dessa abordagem?

Praticamente qualquer pessoa pode se beneficiar do comer intuitivo — especialmente aquelas que já passaram por ciclos repetitivos de dietas e restrições, que têm uma relação conflituosa com a comida ou que desejam adotar hábitos mais sustentáveis e conscientes.

Também é uma abordagem interessante para quem está em fase de transição alimentar, como vegetarianos iniciantes, pacientes com histórico de transtornos alimentares ou até pessoas que acabaram de sair de um processo de emagrecimento forçado e precisam se reconectar com o corpo.

Crianças e adolescentes também podem ser introduzidos ao conceito, sempre com orientação adequada. Ensinar desde cedo que comida não é inimiga é um presente que se carrega por toda a vida.

Mas vale lembrar: em alguns casos, o acompanhamento profissional é fundamental. Principalmente se houver questões emocionais profundas envolvidas na relação com a alimentação. O comer intuitivo é simples na teoria — mas pode ser complexo na prática.

 

Como começar a praticar o comer intuitivo

O primeiro passo é parar de seguir dietas restritivas e aceitar que seu corpo tem sabedoria própria. Pode parecer assustador no início, mas aos poucos você vai reaprendendo a escutar seus sinais internos — fome, saciedade, desejo, satisfação.

Tente fazer as refeições com presença. Pergunte-se: estou com fome ou com vontade de comer? O que meu corpo está pedindo agora? Estou satisfeito ou só comendo por costume? Essas perguntas ajudam a criar uma nova conexão com a comida.

Evite rotular alimentos como “bons” ou “ruins”. Todos os alimentos têm seu lugar em uma alimentação equilibrada. Comer um pedaço de bolo com prazer e sem culpa é mais saudável do que resistir e depois comer escondido, com vergonha.

Se possível, conte com o apoio de um profissional. Nutricionistas especializados, psicólogos e educadores alimentares podem ajudar a traduzir os princípios do comer intuitivo para a sua realidade — com leveza, segurança e sem pressão por resultados imediatos.

Leia também: