Concursos públicos e a saúde do sono dos candidatos

Por Portal Saúde Confiável

1 de setembro de 2025

Falar sobre sono em tempos de preparação para concurso parece quase um tabu. Muitos candidatos acham bonito dizer que estudaram até às 3 da manhã, ou que dormem só quatro horas por noite pra dar conta de tudo. Mas será que essa rotina insana realmente ajuda no desempenho? Ou será que o prejuízo é maior do que parece?

Estudos recentes mostram que a privação de sono é um dos principais inimigos da aprendizagem. E no contexto dos concursos públicos, onde a memorização, o raciocínio lógico e o controle emocional são exigidos ao máximo, dormir bem deixa de ser luxo — é parte da estratégia. O problema é que poucos enxergam isso como prioridade.

O excesso de estudo, a ansiedade, o medo de fracassar, o consumo de estimulantes e a rotina desregulada formam uma combinação perfeita para o caos do sono. E quando o descanso não acontece da forma certa, o corpo e o cérebro entram em colapso. A fadiga se acumula, a memória falha, o humor oscila. O resultado? Provas ruins, rendimento abaixo do esperado e uma sensação de frustração constante.

Será que dá pra estudar muito sem sacrificar a saúde do sono? Dá sim. E mais: é possível render mais estudando menos, desde que o cérebro esteja descansado e operando em pleno estado de alerta. Vamos entender melhor como essa relação entre sono e desempenho nos concursos funciona — e como virar o jogo a favor da sua saúde (e da sua aprovação).

 

O impacto da privação de sono no rendimento cognitivo

Quando você dorme pouco, seu cérebro entra em modo de sobrevivência. As funções cognitivas mais sofisticadas — como concentração, memória e tomada de decisão — são as primeiras a falhar. E é exatamente isso que você mais precisa para ir bem nos concursos. Ou seja: dormir pouco é cortar suas próprias armas antes da batalha.

A longo prazo, a privação de sono afeta até o humor e a capacidade de lidar com frustrações. Isso se traduz em mais irritabilidade, menos paciência com o processo de aprendizado e mais desistências no meio do caminho. O candidato se culpa achando que “não nasceu pra isso”, quando na verdade só está exausto. É um ciclo silencioso e perigoso.

Por mais que a rotina de estudos seja puxada, ela precisa incluir pausas e sono de qualidade. A velha história de que dormir é perda de tempo caiu por terra. O sono é quando o cérebro fixa o conteúdo estudado. Sem ele, o que você leu hoje vai embora amanhã. E em tempos de concursos abertos quase todo mês, isso é um erro que custa caro.

 

Ansiedade pré-prova e insônia crônica: um ciclo comum

Muita gente até tenta dormir, mas simplesmente não consegue. A cabeça gira em círculos: “Será que vou dar conta?”, “E se eu reprovar de novo?”, “Não estudei tudo que precisava”… A ansiedade antes da prova é natural, mas quando ela vira insônia crônica, é sinal de que algo está desequilibrado — e precisa ser ajustado o quanto antes.

Esse tipo de insônia, ligada à pressão dos estudos, costuma aparecer com mais intensidade nos dias que antecedem a prova ou na reta final de preparação. Mas em alguns casos, ela se estende por semanas ou meses. O candidato entra num modo de hiperalerta constante, e o corpo simplesmente “esquece” como relaxar. Isso desgasta mais do que qualquer prova difícil.

O primeiro passo para romper esse ciclo é reconhecer o problema e criar um plano de cuidados. Reduzir o uso de telas antes de dormir, evitar cafeína no fim do dia, manter uma rotina de sono regular… tudo isso ajuda. Mas também é importante ajustar a mentalidade: não dá pra dominar o edital concurso inteiro em uma semana. O equilíbrio mental começa pela aceitação dos próprios limites.

 

Estudo noturno x estudo diurno: qual o melhor horário?

Esse é um ponto polêmico. Tem gente que funciona melhor à noite, quando a casa está silenciosa, o celular não toca e ninguém interrompe. Outros rendem mais pela manhã, com a mente fresca e energia renovada. A verdade é que o melhor horário de estudo é aquele que respeita seu cronotipo — ou seja, seu relógio biológico natural.

O problema começa quando o candidato força um ritmo que não é o dele. Estudar de madrugada porque acha que tem que estudar mais, mesmo com sono pesado, não é eficiente. O cérebro cansado aprende mal. E acordar tarde todos os dias atrapalha o ritmo de sono-vigília, o que afeta diretamente a qualidade do descanso noturno.

Além disso, as inscrições concurso e, principalmente, as provas, costumam acontecer pela manhã ou no início da tarde. Se você está acostumado a estudar só à noite, seu desempenho no horário real da prova pode ser muito inferior. Por isso, adaptar gradualmente o horário de estudo ao horário da prova é uma estratégia que vale ouro.

 

Higiene do sono: dicas práticas para candidatos

Você já ouviu falar em “higiene do sono”? Parece nome técnico, mas nada mais é do que um conjunto de hábitos que ajudam o corpo a entender que é hora de dormir. E isso é fundamental pra quem vive com a mente acelerada por causa dos estudos. Um ritual noturno simples pode fazer toda a diferença na qualidade do seu sono.

Primeiro: evite estudar ou mexer em telas até o último segundo antes de deitar. A luz azul dos dispositivos atrasa a produção de melatonina, o hormônio do sono. Dê um intervalo de pelo menos 30 minutos. Segundo: crie um ambiente escuro, silencioso e fresco. Isso manda sinais claros para o cérebro de que é hora de descansar.

Terceiro: evite alimentos pesados e estimulantes à noite. Nada de café, energéticos ou chocolate nas últimas horas do dia. E se possível, estabeleça um horário fixo pra dormir e acordar, mesmo nos fins de semana. Isso regula o seu ciclo circadiano e facilita muito o descanso real — aquele que repara corpo e mente, e prepara você para um simulado concurso sem bocejos.

 

O efeito rebote do sono no dia da prova

Chegou o grande dia. Você estudou por meses, revisou tudo, fez mil simulados… mas não conseguiu dormir na véspera. Resultado? A mente está nublada, a memória falha, o corpo parece pesado. Isso acontece com mais frequência do que se imagina — e pode comprometer uma prova inteira.

O chamado “efeito rebote” da insônia pré-prova é traiçoeiro. Mesmo que o conteúdo esteja fresco na sua cabeça, o cérebro exausto simplesmente não responde como deveria. A leitura fica lenta, o raciocínio trava, a ansiedade aumenta. E o pior: o cansaço aumenta os erros por desatenção, que são justamente os mais perigosos em provas objetivas.

A melhor forma de evitar isso é não transformar a véspera da prova em uma maratona. Nada de virar a noite estudando. O foco deve ser em relaxar, se alimentar bem, dormir cedo e acordar com tempo para se preparar com calma. É mais vantajoso dormir bem e esquecer um detalhe da matéria do que estudar até tarde e comprometer o desempenho geral.

 

Saúde mental, sono e a jornada até a aprovação

No fim das contas, dormir bem é parte da preparação. Não é um luxo, não é perda de tempo, não é preguiça. É estratégia inteligente para quem quer sustentar um ritmo de estudos intenso sem quebrar no meio do caminho. E mais: quem cuida do sono cuida também da saúde mental — e esse é o maior ativo do concurseiro.

O processo de estudar para concursos é, por si só, desafiador. Lidar com incertezas, cobrança interna, comparações com outros candidatos… tudo isso desgasta emocionalmente. Se o sono não estiver em dia, essa pressão cresce como uma bola de neve. E uma mente cansada não aprende, não retém, não interpreta. Apenas sobrevive.

Se você sente que seu rendimento caiu, que anda esquecendo o que estudou ou que está sempre exausto… pare. Respire. E avalie seu sono. Pode ser que a solução para sua dificuldade não esteja em mais conteúdo, mas em mais descanso. Porque às vezes, o que falta para passar não é mais uma apostila — é só uma boa noite de sono.

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