Marketing digital interfere na percepção de saúde e bem-estar?

Por Portal Saúde Confiável

5 de agosto de 2025

Você já se pegou comprando uma vitamina nova, experimentando uma receita “detox” ou tentando meditar porque viu um post patrocinado? Se a resposta for sim, você não está sozinho. O marketing digital se tornou uma presença constante — e silenciosa — na maneira como construímos nossas ideias de saúde e bem-estar.

O curioso é que essa influência não é, necessariamente, negativa. Em muitos casos, ela é até benéfica: campanhas informativas ajudam a espalhar conhecimento, marcas promovem bons hábitos e aplicativos facilitam o autocuidado. Mas também há armadilhas — principalmente quando a estética se disfarça de saúde ou quando promessas milagrosas circulam sem nenhum embasamento técnico.

A linha entre o que é saudável e o que apenas “parece saudável” está cada vez mais tênue. E isso exige atenção crítica do público e responsabilidade de quem produz e divulga conteúdo. Porque, convenhamos, um corpo bonito nem sempre é sinônimo de saúde. E nem todo suco verde resolve ansiedade ou desequilíbrio hormonal.

Neste artigo, vamos explorar como o marketing digital influencia nossa percepção sobre saúde, desde os pequenos hábitos cotidianos até as grandes decisões sobre estilo de vida, consumo e comportamento. Prepare-se para repensar alguns cliques que pareciam inocentes…

 

Influenciadores moldam comportamentos, para o bem ou para o mal

Hoje, boa parte das escolhas sobre alimentação, atividade física e suplementação começa com um vídeo de 30 segundos. Influenciadores com milhões de seguidores compartilham rotinas, receitas, treinos e até diagnósticos — muitas vezes sem qualquer formação técnica. O problema é que essa influência vem carregada de carisma e proximidade, o que gera uma confiança automática (e perigosa).

Por outro lado, quando bem utilizados, esses mesmos canais podem ser agentes de transformação real. Nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e médicos que dominam o universo digital conseguem democratizar o acesso à informação de qualidade — o que é essencial, principalmente para públicos que não têm acesso fácil a acompanhamento profissional.

A questão é: quem está ditando o padrão de saúde? Um profissional com conhecimento técnico ou alguém com boa genética e edição de vídeo afiada? O marketing digital amplifica vozes — e cabe a nós, como audiência, saber filtrar quem merece esse megafone.

Não é raro ver pessoas tentando seguir dietas ou rotinas que funcionam para o influenciador, mas que não têm nenhuma adequação ao seu corpo, contexto ou necessidade. Isso, além de ineficaz, pode gerar frustração e até efeitos colaterais. Por isso, senso crítico é parte essencial do consumo de conteúdo de bem-estar.

 

Anúncios despertam necessidades que nem sabíamos que tínhamos

Sabe aquele produto que você nunca cogitou comprar — até aparecer em cinco anúncios seguidos nas suas redes sociais? Pois é. O marketing digital tem uma habilidade quase hipnótica de transformar curiosidade em necessidade. De repente, você sente que precisa daquela garrafa com infusor de frutas, daquele suplemento que acelera o metabolismo ou daquele colágeno em gomas que promete “pele de bebê”.

Esse fenômeno não é por acaso. Os algoritmos das plataformas são alimentados pelos seus interesses, buscas e interações. O resultado? Anúncios cada vez mais direcionados, que falam diretamente com as suas inseguranças ou desejos de mudança.

O problema começa quando esses produtos vêm embalados em promessas milagrosas, sem comprovação científica ou com uma estética que sugere resultados instantâneos. A urgência da venda muitas vezes atropela a necessidade de informação clara e honesta.

Por isso, antes de cair no impulso, vale fazer algumas perguntas básicas: existe respaldo técnico para esse produto? Há depoimentos reais ou só publicidade? O preço condiz com o que está sendo prometido? No universo do bem-estar, onde a ansiedade por resultados é alta, o marketing precisa ser aliado — e não explorador.

 

Estética disfarçada de saúde: o efeito colateral invisível

É cada vez mais comum ver campanhas que usam a linguagem da saúde — mas promovem, na prática, padrões estéticos inalcançáveis. O corpo magro, a barriga negativa, a pele sem poros, o humor estável… tudo isso aparece como “resultado natural” de hábitos saudáveis, quando na verdade há filtros, retoques e edições por trás.

Essa estética disfarçada de saúde cria uma pressão sutil, mas poderosa. O público passa a acreditar que o bem-estar tem uma forma específica — e quem não se encaixa nela sente que está falhando. Isso gera frustração, desmotivação e, em casos mais graves, distúrbios alimentares e transtornos de imagem.

O marketing digital, ao privilegiar esse tipo de narrativa visual, reforça um ideal que nem sempre condiz com a realidade de corpos diversos, rotinas apertadas e contextos socioeconômicos distintos. Saúde, afinal, não tem um corpo padrão. Mas nem sempre isso aparece no feed.

É aqui que entra o papel de uma agencia de Marketing Digital consciente, que consegue alinhar estratégia comercial com responsabilidade social. Valorizar a diversidade, promover informação clara e mostrar bastidores reais são atitudes que aproximam — e não afastam — o consumidor das marcas de bem-estar.

 

Apps de saúde e o paradoxo da automedida

Aplicativos de contagem de passos, controle de calorias, monitoramento de sono, respiração guiada… as lojas de apps estão lotadas de ferramentas que prometem “hackear” o bem-estar. E, de fato, muitas dessas soluções são úteis e incentivam bons hábitos. Mas há um paradoxo silencioso aí: quando o autocuidado vira uma corrida por métricas, ele pode deixar de ser saudável.

Registrar cada refeição, bater metas de passos ou manter uma sequência de meditação diária pode gerar mais ansiedade do que bem-estar. O hábito saudável vira uma obrigação — e qualquer deslize vira motivo de culpa. Nesse contexto, o marketing digital alimenta o ciclo com notificações, desafios e comparações sociais que reforçam a cobrança.

O resultado? Pessoas exaustas tentando “ser saudáveis” a qualquer custo. E a saúde mental, ironicamente, fica em segundo plano. Não se trata de demonizar a tecnologia, mas de usá-la com equilíbrio. Apps são ferramentas, não chefes. E o marketing que promove essas soluções precisa lembrar disso.

Incentivar pausas, mostrar limites e valorizar o descanso também é parte do bem-estar. Quem vende saúde precisa comunicar isso com a mesma força com que vende disciplina, produtividade e performance.

 

O papel da comunidade digital no reforço (ou ruptura) de hábitos

Grupos no Telegram, fóruns de saúde, comunidades no Reddit, desafios no Instagram… a internet criou espaços onde pessoas com objetivos semelhantes se reúnem para trocar experiências. E isso tem um poder gigantesco de reforçar — ou questionar — comportamentos relacionados à saúde.

Esses espaços digitais funcionam como espelhos sociais: validam escolhas, oferecem apoio e, às vezes, impõem regras invisíveis. Um desafio de 21 dias sem açúcar pode gerar motivação — mas também cobrança. Um grupo de jejum intermitente pode esclarecer dúvidas — mas também normalizar práticas inadequadas para certos perfis.

O marketing digital, ao entender e se infiltrar nessas comunidades, tem a chance de ser um agente de equilíbrio. Ao invés de apenas vender um produto, pode contribuir com conteúdo útil, acesso a profissionais e mensagens que priorizam o bem-estar real, e não só o performático.

As marcas que entendem esse ecossistema digital como uma rede de apoio, e não apenas um canal de vendas, ganham em credibilidade. Porque, no fim das contas, saúde e bem-estar não se constroem sozinhos — se constroem em diálogo constante com o outro.

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